sexta-feira, 4 de novembro de 2016

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JOURNEY – ESCAPE
Não deve existir um subestilo mais datado do que o AOR. Falo isso sem submeter à palavra “datado” a carga pejorativa que geralmente lhe acompanha. Datado, aqui, é apenas referência ao auge do estilo, lá no intervalo entre 1976 e 1982. Sempre que eu escuto esse tipo de música, minhas recordações são arremessadas para essa época.
Não sei de onde se originou a denominação AOR, mas ela soa um pouco prepotente. Rock orientado para adultos? Há um certo grau de esnobismo desnecessário aqui. Uma insinuação de que o restante do que se faz sob a denominação rock seria voltado apenas para adolescente, o que não é bem verdade. O AOR é caracterizado pela sonoridade cruzada entre o progressivo, o hard e o pop, com uma tendência maior para o primeiro, mas sem se ater às longas suítes que o caracterizam. Algo como um progressivo mais apto às FMs, no tempo em que estas eram mais, digamos, ousadas. É um nicho musical onde podemos inserir bandas como Styx, Asia, Survivor, Toto, Boston, Kansas e, com boa vontade, até o Supertramp. Dentro desse rol, o Journey tem uma posição de destaque. Algo mais ou menos semelhante com o status que o Iron Maiden tem dentro do heavy metal.
Nada surpreendente quando vemos que o guitarrista Neal Schon formou a banda depois de passar uma temporada na companhia de Carlos Santana, com quem gravou dois discos, incluindo o progressivo Caravanserai. Depois de três álbuns de seu novo projeto, Schon iria receber o apoio do cantor Steve Perry e um novo capítulo da história do rock seria escrito.
Steve Perry é dono daquele timbre de voz que convencionamos chamar de angelical, podendo tranquilamente ser colocado em paralelo à Jon Anderson do Yes. Chamá-lo de vocalista é reducionista. Perry é um cantor, no mais estrito sentido denotativo da palavra. A partir de sua entrada, o Journey alcançou novos limites artísticos e comerciais, mas em Escape, as coisas tomaram outros rumos. Não vou dizer que Don´t Stop Believin seja a melhor música de sua carreira. Isso é muito subjetivo. Mas o certo é que essa canção ganhou vida própria, além do alcance de seus autores. É aquele tipo de canção que vira um fenômeno da cultura popular e todos conhecem, mas uma boa parte ignora de quem seja.
Todo o disco foi composto a partir das parcerias de Schon, Perry e do tecladista Jonathan Cain, que estreou aqui e permanece até hoje, sendo o segundo integrante mais longevo da formação, depois de Schon, firmando sua posição de destaque no grupo, tanto como compositor quanto como tecladista, em um gênero onde esse instrumento tem tanta importância nos arranjos quanto a guitarra. Escape não seria um trabalho clássico se se sustentasse apenas em Don´t Stop Believin e, portanto, tem várias outras canções que merecem ser referenciadas como Stone in Love, Still They Ride, a faixa título e, principalmente, a balada Open Arms. Em qualquer uma delas se percebe que, apesar da excelência de seus integrantes, ninguém parece brilhar sozinho. As músicas chamam a atenção pelo que são, não pelo guitarrista ter feito um solo extraordinário ou pelo vocalista ter quebrado uma taça de cristal. É por isso que, mesmo sendo um estilo ligado a um determinado período de tempo, a música do Journey não envelhece e permanece atual e relevante.

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