sexta-feira, 21 de outubro de 2016

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CENTÚRIAS – NINJA
Para quem não é de São Paulo e acompanhou à distância, mesmo dentro de seu próprio país, a evolução do cenário de bandas de heavy metal, a sensação é de que houve uma rápida queima de etapas no Brasil. Mal surgiram – ou, melhor dizendo, mal tornaram-se conhecidas – as bandas de metal clássico, as vertentes mais extremas já estavam mordendo seus calcanhares. Para cada Harppia e Salário Mínimo que estavam despontando, já havia um Korzus, Vulcano ou Sarcófago. Isso, repito, é a minha interpretação vista de longe. Para os conterrâneos desses grupos, que os acompanharam de perto, desde a época das demo tapes, a transição deve ter sido mais natural, obviamente.
A consequência disso é que o metal tradicional pátrio não foi adequadamente absorvido por aqui. Existiram grandes trabalhos e o devido reconhecimento lhes foi dado, mas poderia ter sido bem mais.
Ninja, primeiro álbum do Centúrias, é um exemplo concreto. É, de longe, um dos melhores discos de metal cantados em português e teve a missão de suceder, após uma reformulação geral na formação, o excelente EP de estréia da banda. O grupo que contava com o vocalista Eduardo Camargo à frente deixou saudades, mas o remanescente baterista Paulo Thomaz teve bala na agulha pra trazer dois ex-integrantes do antológico Harppia e o vocalista César Zanelli, que já tinha passado pelo Santuário. Com um time desses, composto apenas por pessoas que já conheciam muito bem do riscado, não tinha como dar errado: Ninja é um disco forte, coeso, com músicas maduras e muito bem desenvolvidas. É aquele típico caso de disco que, de tão bom, sustentaria sozinho o repertório de uma apresentação.
Tendo sido lançado em 1988, sua chegada ocorreu num momento em que o thrash já era uma corrente consolidada, mas tirando um pequeno flerte aqui e ali, o clima todo é de puro e vigoroso metal tradicional, sendo que em diversos momentos podemos identificar uma influência muito forte de Saxon, especialmente nas músicas Guerra e Paz e Metal Comando. Talvez a diferença do timbre de voz de César Zanelli dificulte um pouco essa identificação, mas se prestarmos atenção apenas na levada da música, veremos que ela é bem calcada na lenda britânica e isso é bastante louvável, pois, embora o Saxon seja bastante cultuado por aqui, seu legado ainda não foi suficientemente explorado pelos grupos nacionais.

E, falando de influências britânicas, o onipresente Judas Priest não poderia faltar. Arde Como Fogo parece ter sido composta depois de uma intensa sessão de audição do álbum Hell Bent For Leather. Paulo Thomaz tem um desempenho ímpar, tanto nessa música quanto no resto do álbum. É um músico com longa trajetória no cenário brasileiro e merece ser bem mais reconhecido, mas o seu trabalho em Ninja é como parte de uma verdadeira equipe. Não há um músico que se sobressaia ou que chame mais atenção dos que os demais ao longo da audição. É uma banda na acepção mais pura da palavra, composta por verdadeiros amantes do estilo que fazem. Não à toa, apesar de ainda sofrer as inevitáveis mudanças de formação, continua ativa e relevante. Centúrias é a história viva do metal brasileiro em cima dos palcos.

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