domingo, 10 de julho de 2016


HELLHAMMER - APOCALYPTIC RAIDS
Mórbido.
Nenhuma palavra pode definir melhor o que é a essência do ser humano Tom Warrior do que mórbido.
Ele mesmo viria a utilizá-la no futuro, para nomear um de seus discos, mas o seu significado sempre esteve vinculado a sua personalidade. Colocar a palavra mórbido no nome de um de seus discos era uma reles confirmação de suas intenções, pois, no período gestacional inverso de nove meses antes do álbum Morbid Tales, Tom Warrior trouxe ao mundo uma lenda que precisou de apenas quatro faixas para se perpetuar, o EP Apocalyptic Raids, do Hellhammer.
Não consegui informações sobre a autoria das músicas, então não sei informar se são da assinatura exclusiva de Tom Warrior, mas por esse ser a figura de frente da banda, seu nome é sempre o primeiro a ser mencionado. No entanto, há que se lembrar de outro ente tão sombrio quanto ele, – ou talvez até mais –  e que também deve ser responsabilizado pelo legado que o Hellhammer deixou: o baixista Martin Ain. O aparte que houve no relacionamento profissional e criativo dos dois é o motivo pelo qual, provavelmente, nunca mais teremos o Celtic Frost em atividade e esse vínculo é que me leva a crer que Ain era coautor das músicas, inclusive pelo fato dele assinar várias das composições na era Celtic Frost.
Embora, como já foi dito, o material original só tenha quatro faixas, a avidez por coisas do Hellhammer nos torna obrigatório o dever de mencionar as duas músicas adicionais que foram colocadas em relançamentos do disco: Revelations of Doom e Messiah, que vieram à luz, inicialmente, em uma coletânea do mesmo ano, chamada sintomaticamente de Death Metal e da qual apenas o Hellhammer fazia jus ao nome entre os presentes.
Existem outras faixas espalhadas por aí, retiradas de demo-tapes, mas o melhor da banda está nessas seis músicas. O fator morbidez, ao contrário do que possa se imaginar a principio, não está atrelado ao andamento das músicas. A faixa não precisa ser lenta pra soar soturna e isso está bem claro aqui, onde apenas uma das composições é mais arrastada, mas a sujeira, a performance e a interpretação traziam a perversão para um gênero que ainda estava muito arraigado na melodia. Horus/Agressor, Massacra e The Third of The Storms soam como um passo adiante do que o Venom fazia. Discutir capacidade técnica ou instrumental seria completamente absurdo nesse caso, mas não se releva o que os artistas criaram a partir de suas próprias limitações. E se estabelecermos que o Hellhammer, nessas músicas, já apresentava propostas distintas do Venom ou do Bathory, em Triumph of Death a coisa realmente extrapola.
Triumph of Death é um fenômeno! Musicalmente, fica claro pra qualquer um, que a faixa não tem nada de mais. É composta apenas de dois riffs, extremamente simples, que se repetem ao longo de seus nove minutos. Mas você não vê esses nove minutos passarem! Você fica absolutamente hipnotizado pela composição, pela forma como ela soa crua, maligna, insana. Eu realmente não vejo Venom, Bathory, Sodom, ou qualquer desses outros baluartes da crueza fazendo algo parecido. Eu não vejo que ninguém pudesse fazer algo parecido, apenas o Hellhammer.

Independente do nome ou da encarnação – Hellhammer, Celtic Frost, Apollyon Sun ou Triptykon – independente de o tempo ter trazido aprimoramento técnico e refinamento das composições, nada disso diluiu a aura negra que cerca esses músicos. O que eles fazem hoje é mais bem produzido, sem dúvida, mas tudo é a sequência lógica do que aconteceu em 1984, quando o Hellhammer deu início às incursões do apocalipse em nosso mundo.   

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