sexta-feira, 8 de julho de 2016



Com a notícia da aposentadoria de Cliff Williams, após a perda de Malcolm, Phil e Brian, chega mais perto o momento do fim. Hora de recuperar um velho texto.

AC/DC - POWERAGE
E houve um dia em que um jovem adolescente, que ainda não entendia direito como era esse negócio de rock, escutou pela primeira vez o AC/DC... O que eu devo fazer agora? Talvez nada, pois estou meio atordoado, perdido em um estado entre o maravilhado e o confuso.
Então isso que é rock? Rock de verdade? Parece ser um pouco diferente daquelas coisas que tocam no rádio... É mais alto, as batidas são mais fortes, tem um certo deboche... Aquilo tudo são sons de guitarra? É tão diferente daquelas coisas magrinhas do rádio! E esse sujeito da capa é o vocalista? Essa voz tem jeito de que está saindo desse cara... Aliás, por que é que ele está sempre vestido assim???
Powerage tem esse efeito sobre mim e sempre terá. Acho que toda vez que escutar esse disco eu vou lembrar de onde estava, com quem estava e até do que estava comendo. Está tudo fixo na minha memória como se fosse um retrato. Tanto o ambiente quanto as sensações. Cada música soava absurdamente inusitada. Riff Raff era muito, muito rápida! Nada podia ser mais rápido do que aquilo!
Meus discos preferidos do AC/DC sempre serão Powerage e Flick of the Switch. Não me importa o que contradizem a crítica especializada ou o consenso geral. Esses álbuns foram meu primeiro contato com a banda e, entre alguns poucos outros, meus primeiros contatos com rock pesado. A memória afetiva aqui é altíssima.
Vendo sob a perspectiva atual, é impressionante que nenhuma das faixas aqui faça mais parte do repertório da banda em suas turnês. Não dá pra uma banda, com o catálogo que o AC/DC tem, mexer muito em seu setlist sem que provoque reclamação de um ou outro, mas, mesmo que as músicas aqui não fossem representativas de um período mítico de sua carreira, como são os anos com Bon Scott,  todas tem fôlego suficiente para se fazerem presentes até hoje, tanto pela qualidade, pela vibração, como também pela variedade. Um único disco, que contém canções como Down Payment Blues, What´s Next To The Moon, Kicked in the Teeth, Gimme a Bullet, Up To My Neck In You e a excepcional Sin City, com sua chamativa linha de baixo, sobre a qual Bon canta de um jeito quase falado, são a mais pura definição de clássico, de tudo que surgiu de melhor no hard rock dos anos setenta.
Reverenciar Bon ou Angus é chover no molhado, Malcom era o cabeça e um dos melhores guitarristas base que já se viu, Cliff é um grande baixista, que teve que soar discreto para não destoar da proposta da banda, mas o baterista.... Podem falar o que quiserem, mas Phil Rudd é um dos melhores bateristas de todos os tempos e ponto final. Sua simplicidade é tão complexa que nenhum de seus substitutos conseguiu emular a sua pegada única e a sua contribuição para o som da banda. Bateristas que se destacam pela levada simples são um grupo extremamente restrito, do qual pode-se citar poucos exemplos, como Charlie Watts e Ringo Starr.
Da mesma forma, o conjunto é peça restrita de um pequeno clube de bandas que crescem na simplicidade. Apareceu para mim no momento certo, portanto, pois minha mente, ainda uma tabula rasa para esse tipo de música, precisava ser alimentada aos poucos, mas isso não significa que eu esteja sugerindo que o disco tem menos vigor do que outras coisas que viriam depois. De modo algum! Ele ainda me soa tão pesado e cheio de personalidade quanto o foi há mais de trinta anos passados.



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