sexta-feira, 17 de junho de 2016



ROLLING STONES – LET IT BLEED
Não se costuma ver, frequentemente, o nome dos Rolling Stones sendo colocados ao lado de seus devidos pares, que seriam bandas como Led Zeppelin, Cream ou Who. Uma boa parte deve discordar, mas essa é a minha opinião. Os Stones não tinham, obviamente, a vontade de mergulhar nas jams instrumentais que caracterizavam as duas primeiras, ou nas viagens temáticas que Pete Townshend desenvolvia para a última, pois o foco do grupo sempre foi o rock´n´roll e o blues. Sim, fizeram várias experimentações no decorrer de seu longuíssimo trajeto, flertando com vários outros ritmos, como reggae e disco music, mas nunca se desviaram da essência. Os Stones, no vinil ou no palco, é uma formação que pode até ser igualada, mas dificilmente será superada.
A trinca de discos que começa em Beggar´s Banquet e termina em Sticky Fingers representa, para mim, o ápice criativo do conjunto. O disco intermediário, conhecido com Let it Bleed, é o meu preferido e, curiosamente, é intermediário também no momento pessoal pelo qual a banda passava. Brian Jones estava saindo e Mick Taylor estava chegando. Os dois participaram do álbum mas nenhum chegou a gravá-lo por inteiro, fazendo apenas pequenas participações em duas músicas cada um. Keith Richards fez, praticamente, todo o trampo sozinho. Eu não me incluo entre as pessoas que, atualmente, elevam Keith a esse status de semideus que parece ter retroalimentado o próprio ego do sujeito, apesar de que ele é realmente genial, mas o fato dele ter tido tal desempenho nesse disco, tão válido para mim, diz muito sobre o guitarrista, se é que tudo já não foi dito.
E não há dúvidas de que os Stones eram uma superbanda. Os comportamentos discretos de Charlie Watts e Bill Wyman eram pouco mais do fachadas para dois músicos excepcionais, donos de talento e bom gosto, e tão importantes para o grupo quanto o são Richards e Mick Jagger. É graças a eles que as introduções de Live With Me e Monkey Man soam tão lindas. Aliás, todos os arranjos desse álbum são algo além do sublime. É dura a tarefa de qualquer música obter destaque em um disco que começa com Gimme Shelter e termina com You Can´t Always Get What You Want, mas o repertório presente mantém no miolo o carisma contido nas suas extremidades, inclusive porque canções como essas não são simplesmente clássicos dos Stones, ou clássicos do rock. Elas vão muito além disso: são clássicos da música universal, são clássicos da cultura humana, que ultrapassarão nossa geração e serão cultuadas e celebradas muito depois que os artistas não estejam mais aqui.
Um exército de músicos colaborou junto com a banda para a realização desse disco, sendo que alguns, como Bobby Keys e Nicky Hopkins, eram parceiros habituais. O mais célebre de todos, porém, era o pianista Ian Stewart, que foi co-fundador do grupo mas, por questões empresariais, mantinha-se à parte dos holofotes que incidiam sob o quinteto principal. A única participação de Ian aqui foi na música que deu nome ao disco e foi a sua atuação que tornou a canção aquilo que é. Desde o respeitoso tom concedido à cover de Love in Vain, de Robert Johnson, até a intensidade de Midnight Rambler, estão explícitos os alicerces que fazem com que a banda ainda seja atuante e relevante. Não nos importemos com o fato de que algumas pessoas encontrem diversão fazendo piadas com a faixa etária dos músicos porque, afinal, se não fosse por esse inevitável fato, eles não encontrariam outros motivos para tecer críticas aos Rolling Stones.

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