sábado, 4 de junho de 2016



JUDAS PRIEST – HELL BENT FOR LEATHER

Novamente se trata daquela benção, de possuir um catálogo tão privilegiado, que qualquer pessoa tem que refletir um pouco antes de nomear qual é o disco mais clássico entre os outros clássicos. Ter um acervo onde até os trabalhos menos inspirados ou mais polêmicos são essenciais e relevantes. Hell Bent For Leather, juntamente com Stained Class, me passam a impressão de serem meio como pérolas perdidas dentre a discografia da banda. Qual o melhor disco do Judas Priest? Rapidamente alguém vai citar British Steel, Screaming for Vengeance, Painkiller, Sin After Sin ou algum outro, mas aqueles dois são pouco lembrados no momento de uma resposta mais imediata. Não descarto a possibilidade de que essa seja uma impressão equivocada, sob uma ótica brasileira, gerada pelo fato desses dois álbuns terem sido lançados muito tardiamente por aqui.
Hell Bent for Leather é o álbum que fecha o ciclo dos cinco discos lançados antes do ao vivo Unleashed in the East, que antecede o lançamento de British Steel e faz a divisória entre o Judas dos anos 70 e o dos anos 80. Eu sempre considerei a obra do Judas Priest como algo muito coeso. Não existem oscilações extremas de identidade. Do Turbo ao Painkiller, de Sad Wings ao Defenders, tudo soa como Judas Priest. A presença de Rob Halford, vocalista-mor do heavy metal, e o trabalho siamesco desenvolvido por Glen Tipton e K. K. Downing são selos que revelam não apenas a personalidade da banda, mas as bases que fundamentam todo o estilo. Se o Judas passeou com desenvoltura do hard quase glam de Turbo até o thrash de Painkiller, é porque os artistas mais emblemáticos desses subestilos já utilizavam elementos da banda inglesa em suas composições.
Hell Bent for Leather foi lançado em 1978, mas é o disco menos setentista de seu período. Em termos de desempenho, o disco antecede, quase como um prólogo, o que seria apresentado em British Steel, com faixas mais concisas e diretas, além da variedade intrínseca. A formação era a que continha o praticamente inalterado quarteto, com o acréscimo do baterista Les Binks, cuja passagem pela banda desenvolveu-se justamente no período dos três discos entre Stained Class e Unleashed in the East .
A faixa título é a grande sobrevivente do repertório do álbum, nos setlists dos shows, seguida esporadicamente por The Green Manalishi, mas como seria prazeroso se eles ainda pudessem encontrar espaço para executar clássicos como Running Wild ou Delivering the Goods. Há um forte gancho na melodia de faixas como Evening Star, Take On the World, Rock Forever e da balada Before the Dawn, colaborando para o potencial de vendas do disco, sem que o mesmo descambe para o mero comercialismo, e balanceando com o clima mais hard setentista de músicas como Killing Machine, Burnin Up e Evil Fantasies.
Quando eu comecei a escutar heavy metal, o Judas já era uma lenda. Do ano de sua estréia até o British Steel, passaram-se seis anos, que totalizaram seis discos de estúdio. Às vezes eu fico imaginando como deve ter sido a experiência de quem acompanhou o conjunto em sua época, comprando os discos no momento de seu lançamento e vibrando com o fato de que cada um era melhor do que o outro. Não seria diferente da experiência que tive com Metallica ou Slayer, que de certa forma foram meus contemporâneos, mas esses últimos, embora inaugurassem a linguagem thrash, nasceram sob a égide de uma cultura heavy metal já estabelecida.
Na época do Judas, eles estavam criando essa cultura.  

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