sábado, 6 de fevereiro de 2016



WHO - WHO´S NEXT

A menção do nome do Who, colocado em paralelo aos seus conterrâneos e contemporâneos Beatles e Rolling Stones, depende das opiniões do autor sobre a sonoridade da banda. Eu, pessoalmente, considero que eles margeavam o yin/yang formado pelos outros dois grupos ingleses. Basta perceber que, quando lançou seu segundo disco, A Quick One, já surgiam em sua obra as experimentações que os colocavam em paralelo ao que os outros dois estavam fazendo na mesma época, respectivamente nos discos Revolver e Aftermath, mas os álbuns que se seguiram a partir de então – vide o sensacional Sell Out – ampliaram as diferenças existentes entre os três.
O Who, nesse período, estabeleceu um padrão em seus discos, em que cada um, individualmente, já surgia para o mundo com o status de uma peça lapidada e planejada, com começo, meio e fim bem definidos. É o caso de Who´s Next. Sanduichado entre dois álbuns conceituais - Tommy e Quadrophenia – a trinca representa o auge da criatividade da banda e, para quem conhece a forma como o grupo trabalhava, sabe que uma boa parcela desse mérito cabe a um dos membros especificamente.
È fácil perceber que as habilidades de Pete Townshend como guitarrista, embora estivessem bem longe de poderem ser classificadas como limitadas, estavam um pouco aquém dos talentos de seus colegas de banda, mas, por outro lado, o dom do mesmo para a composição era sobrenatural! Neste álbum, por exemplo, apenas a faixa My Wife, de John Entwistle, não tem a sua assinatura. O que sobra é nada mais, nada menos, do que clássicos atemporais como Baba O´Riley, Behind Blue Eyes, Water, The Song Is Over, Won´t Get Fooled Again e a maravilhosa Getting in Tune, apenas para mencionar as mais conhecidas. E mesmo que Pete Townshend não fosse o compositor que é, ter as suas músicas interpretadas por caras como Entwistle, Roger Daltrey e Keith Moon transformaria qualquer melodia, por mais básica que fosse, em algo memorável. A propósito, já que estamos falando em formação, preciso deixar claro que Daltrey e Townshend são grandes ícones, mas Keith Moon e John Entwistle são além de definições. Nasceram um para o outro. Keith era uma força da natureza, um incontrolável espasmo de braços e pernas, cuja explosividade só poderia ser acompanhada por um virtuoso como Entwistle, cujo semblante calmo continha um poder rítmico e uma precisão comparáveis apenas ao modus operandi de Jack Bruce.

Chamar Who´s Next de clássico é, de certa forma, diminuir o seu verdadeiro valor. A palavra “clássico” é, hoje em dia, usada de forma muito aleatória, qualificando qualquer disco que obtenha um pouco mais de destaque midiático, não sendo respeitosa com seu verdadeiro significado. Obra-prima talvez seja um termo mais adequado para esse álbum, pois demonstra o que realmente é o trabalho e não o joga em uma vala comum. Obra-prima de nossa época, uma peça de arte contemporânea desde a capa, que mescla o esotérico com o deboche escrachado. Depois desse disco e de Quadrophenia, viriam lançamentos com inspiração alternada, como By Numbers e Who Are You, que intercalam momentos brilhantes com outros nem tanto, mas a catarse definitiva na carreira, ocorreria com a morte de Keith Moon.Sua ausência teve o mesmo impacto que a de John Bonham no Led Zeppelin e,se por um lado, o Who não encerrou as atividades, a banda que ressurgiu era um mero rascunho da criatura original.

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