sábado, 8 de agosto de 2015



AND JUSTICE FOR ALL

Muito se debate sobre como o Metallica soaria se Cliff Burton não tivesse morrido. Em relação ao conteúdo do Black Album e seus lançamentos seguintes, não sei opinar, mas, em relação ao And Justice for All, eu creio que, com uma ou outra característica pontual, o disco não teria soado radicalmente diferente do resultado que conhecemos. Burton, apesar de ser peça-chave no som da banda, e de exercer certo grau de influência sobre os demais membros, não participava tão ativamente das composições, conforme pode ser percebido nos créditos do disco anterior, Master of Puppets, onde ele co-assina duas faixas apenas.
Creio, portanto, que a música do Metallica já estava correndo para aquela direção. Não à toa, quando o último disco – Death Magnetic – surgiu, anunciando a intenção da banda em tornar a tocar um estilo mais pesado, ele remeteu justamente a essa fase da carreira. 
Ao contrário também da crítica generalizada de que as músicas estavam muito complexas, com muitas partes, etc, eu também me oponho. É isso que faz o disco ser tão bom! Músicas que precisam ser absorvidas aos poucos e, a cada nova audição, vão revelando seus detalhes, crescendo para o ouvinte. Ressalte-se também que qualquer traço de intenções comerciais passou bem longe daqui: o álbum, no geral, tem o clima mais dark entre qualquer coisa já feita pelo Metallica, soando bem thrash, sem dúvida, mas não aquele thrash explosivo do começo, e sim algo mais cerebral, mais denso. E a produção, bem seca, evidencia a sensação de que a banda está executando tudo ao vivo, juntos no estúdio.
James Hetfield, que ainda não tinha se preocupado em aprender a cantar, estava cantando melhor do que nunca, com vocalizações bem rasgadas, no auge do cruzamento entre amadurecimento e crueza. Lars Ulrich, a outra metade da força motriz que dá vida à banda, também estava em ótima fase. Não obstante a sonoridade um pouco polêmica da timbragem dos instrumentos no disco – e mantendo-me à parte do já saturado debate sobre o som do baixo – Lars é, ou era, um baterista muito criativo, acrescentando, em todo o álbum, diversas viradas de bateria não apenas memoráveis, mas que chegam a ser quase cantáveis.
Em termos de sobrevida no setlist, One é o grande destaque do trabalho. Mais uma de uma sequência de falsas baladas, que começam bem melódicas e terminam como escavadeiras aceleradas. Apesar de um certo ar de previsibilidade nessa fórmula, a qualidade e o carisma das composições se sobrepõe à possibilidade de críticas. Das demais faixas, Blackened, And Justice For All e Harvester of Sorrow são as mais frequentes, marcando presença vez por outra nas apresentações. To Live is To Die merece ser mencionada por ser a música instrumental do álbum, intercalada brevemente pela recitação de alguns versos escritos por Cliff Burton, e Dyers Eve encerra o disco com a levada mais acelerada entre todas.

Embalado por sua capa icônica, And Justice For All cumpriu com êxito o papel de transição dentro da discografia do conjunto. Mesmo os arranjos complexos não alienaram os fãs mais tradicionais, já que esses, em sua maioria, abraçaram a tendência que a banda apontava. Surpreendentemente, ou talvez não, o Metallica deu uma guinada na carreira e percorreu um caminho inesperado, agradando alguns e desagradando outros, mas esse disco tem todos os méritos para ser a sequência natural da - assim chamada - tríade clássica de seus primeiros anos.

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