sábado, 18 de julho de 2015






JANIS JOPLIN – PEARL

Na medida do possível, eu tento escrever essas linhas mantendo o meu lado de fã em modo de suspensão. Na medida do possível, porque tem vezes que não dá pra conter a paixão e deixar de mandar a imparcialidade para o inferno! Janis Joplin foi, é e sempre será a maior cantora que já passou por esse mundo. E nem quero que me falem em Doro, Tarja, Adele, Amy, ou seja lá quem for: todas essas ainda precisam comer muito feijão para poder calçar os sapatos de minha querida, eterna Janis Joplin.
Além de que Janis também fez cair por terra essas idéias de que, para ter uma boa voz, é necessário sei lá quantos cuidados, porque, todo mundo sabe, ela tinha uma vida pra lá de desregrada. Até quando um fator iria entrar em colisão com o outro, nós não sabemos, pois o tempo não nos permitiu acompanhar essa evolução.
Pearl, o último disco de uma carreira curtíssima, foi lançado postumamente, mas registrou a performance da artista em seu auge. O clássico dos clássicos, Mercedes Benz, traz a mesma praticamente à capela e basta. Não falta nada, é uma música completa e foi suficiente apenas o registro vocal para imortalizá-la.
Move Over, a música que abre o disco, é uma das poucas canções originalmente compostas por Janis e a sua leve inclinação para o hard rock demonstra que a cantora estava sintonizada com o que estava acontecendo ao seu redor. Quando eu ouço essa música, consigo, sem esforço, imaginá-la sendo interpretada pelo Deep Purple em sua primeira fase com Ian Gillan, que naquele mesmo ano de 1971 estava lançando seu álbum Fireball.
Não poderia haver melhor forma de começar a obra, mas a paixão de Janis sempre foi primordialmente o blues, e a faixa seguinte, Cry Baby, traz uma interpretação explosiva da mesma. Poucas vezes a gente tem a oportunidade de presenciar tanta entrega, tanta emoção em uma música. Tal qual ocorre também em A Woman Left Lonely e, a não ser que você seja abstêmio, não existe outra justificativa para não servir uma dose generosa de bourbon durante a audição dessa faixa. O restante do disco, porém, segue por músicas bem radiofônicas, sempre lembrando que esse já foi, um dia, um meio de divulgação artística mais abrangente em suas propostas. Logo, canções como My Baby, Half Moon e Trust Me transitam nesse tênue espaço, nessa arte meio perdida em que uma canção poderia ser popular sem que para isso também fosse simplória. Por fim, considerando que Janis era texana, não é de se estranhar a presença de uma faixa mais chegada para o country, como Me And Bobby McGee, outro grande clássico, desta feita composto pelo músico e ator Kris Kristofferson, e que tem uma linha de baixo bem marcante.
A palavra pérola, que nomeia o álbum, representa cada trecho de música nele contido. Cada música que Janis gravou é uma metáfora sonora para sua trajetória. Muita emoção concentrada em pouco tempo. Muito lamento pelo que ela não fez, muita carência pelo que ela não gravou, muita especulação pelo que ela poderia ter sido, até onde poderia ter chegado. Acima de tudo, muita saudade, da estrela que encarnou o blues de forma tão definitiva que, até hoje, não foi superada. E o tempo continua a passar...

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