sábado, 11 de julho de 2015






JUDAS PRIEST - NOSTRADAMUS

É extremamente fácil, hoje em dia, o sujeito dizer que não gosta de um disco. Existe música demais, disponível demais, e então, naquele determinado momento, faz-se uma audição de um trabalho que não agrada de imediato. Em tempos idos, quando o acesso à música não era tão facilitado como é atualmente, comprava-se um disco e ouvia-se várias e várias vezes, mesmo que não tivesse gostado de primeira, porque alguém dificilmente teria um acervo grande e variado o suficiente para poder se dar ao luxo de escantear rapidamente uma nova aquisição. Hoje, porém, ....
Hoje, ninguém quer se dar ao trabalho de ouvir e reouvir e reouvir um disco. Se não foi assimilado logo, tem outras coisas à disposição e, para piorar ainda mais, o tal disco que não foi imediatamente aceito é duplo. Ou seja, exige mais tempo, e tempo é algo que as pessoas não estão querendo mais dedicar à pura fruição de música. Muitas obras podem se perder nessa premissa, pois existem discos que necessitam de audições adicionais para serem plenamente absorvidos.
Nostradamus, disco conceitual lançado pelo Judas Priest, é um que foi recebido com má vontade por muita gente, antes que assimilado ou sequer escutado. Foi rapidamente taxado de progressivo, reclamaram por ter vinhetas entre as músicas, sem que, nenhuma dessas coisas, por si só, deprecie o trabalho. Tem vinhetas? Tem. Mas essas vinhetas são também pequenas músicas, cantadas ou instrumentais. Bem diferente do que o Manowar, por exemplo, fez no disco também conceitual que foi lançado mais ou menos na mesma época, Gods of War. Ali, as vinhetas eram sons de batalha, de cavalgada ou de discursos vikings, algumas mais extensas do que deveriam ser. No caso do Judas, as tais vinhetas, ou, melhor dizendo, intervenções, são passagens melódicas que interligam a narração e servem também para que a voz de Rob Halford seja mais bem apreciada. Rob, reconheça-se, já não tem mais o desempenho de sua juventude, mas os anos não estão pesando tanto para ele. Ainda é um intérprete fenomenal.
Soar progressivo, em momento nenhum, me parece ser o problema. Quem entende que a inserção de passagens mais suaves ou climáticas seja um equívoco cometido pela banda, então, por favor, tente desconsiderar o que eles fizeram no período entre os álbuns Rocka Rolla e Stained Class, que estão repletos de momentos assim. Nostradamus é um disco que eu realmente adoro e, ao meu ver, ele se legitima em tudo que a banda já fez em sua discografia.
Prophecy, a primeira grande faixa do álbum, após a abertura Dawn of Creation, é puro Judas Priest. Empolgante e bombástica, com Halford à frente e a dupla de guitarristas siameses, Tipton e Downing, fazendo o espetáculo de sempre, em bases e solos, com o mesmo punch e a mesma assinatura sonora que os tornou um dos principais duos do heavy metal, com a solidez tradicional já escancarada logo na primeira melodia dobrada.
Revelations é uma música mediana, mas o acompanhamento feito por Scott Travis se destaca nela, além do excelente refrão. Refrões, por sinal, são um dos pontos fortes desse disco: outras faixas, como Exiled e Visions, iniciam dando a entender que não são canções que irão deslanchar, mas, quando entram os seus refrões tudo muda! New Beginnings quase que poderia ser outra a se juntar à descrição dessas, mas ela tem o bônus de trazer alguns momentos que remetem ao Pink Floyd, principalmente nas guitarras, o que leva a canção para outro nível.
Se essas músicas se salvam por esses detalhes, o mesmo não posso dizer de War. Essa é a faixa menos interessante. Tem um andamento grandioso, mas está aquém das demais. E as demais estão entre o melhor que a banda já produziu, como Pestilence and Plague, onde Rob canta parte da letra em italiano, como a balada Lost Love, como a faixa Death, com seu clima tenebroso, e como as excelentes Conquest, Alone e Persecution.
Nostradamus, penúltima música, é marcante e dinâmica. Poderia perfeitamente encerrar o disco, e o faria em grande estilo, como se fosse o clímax, mas Future of Mankind assume essa função, como se fosse os créditos finais de um filme, arrebatando uma grande obra, marcante para a banda não apenas pelo desafio inédito em sua carreira, mas também por conter as últimas notas gravadas por KK Downing com o conjunto, e eu fico satisfeito que ele tenha concluído sua trajetória com esse álbum. Se, no futuro, Nostradamus vai, ou não, receber o status de clássico, pouco importa. O que importa é que ele, como trabalho artístico, vai além da mera contemplatividade, gerando reações e interpretações, da mesma forma que se poderia obter da leitura das centúrias do profeta francês.

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