sábado, 20 de junho de 2015



BOB DYLAN – HIGHWAY 61 REVISITED

O quão grande deve ser um artista para ter a sua obra estudada e categorizada em fases? Tal qual Pablo Picasso, nas artes plásticas, cujo trabalho foi dividido entre o período azul, o período rosa, o período africano, entre outros, o legado de Bob Dylan para a música tem o mesmo peso que o pintor espanhol teve no seu ramo.
Mas aí é que vem a grande dificuldade, pelo menos para mim, que não tenho grande fluência na língua inglesa, em apreciar na totalidade o que Bob Dylan fez ao longo do tempo. Sim, porque Bob Dylan sempre me soou mais um poeta do que um músico. Um poeta que lançou seus textos em discos, ao invés de livros, e, por conta disso, acabou obtendo uma projeção maior para suas palavras. Só que eu sou um fã mais fervoroso de música do que de poesia e, nesse sentido, me parece que o acompanhamento instrumental das canções de Dylan acabam – ou poderiam acabar – em levadas rítmicas espartanas, com a mera função de emoldurar os textos. Nesse ponto é que entram os músicos de sua banda de acompanhamento: Dylan sempre esteve assessorado pela nata e é a desenvoltura desses caras que cria as molduras onde Dylan pinta os cenários confessionais, criados a partir de suas experiências. São músicos de primeiro gabarito, como Al Kooper e Mike Bloomfield, que tornam a audição do disco um momento mais completo e cativante. Vide Desolation Row, com seus onze minutos de declamação, que fluem com leveza graças aos talentos envolvidos. E Desolation Row é apenas o momento do disco com mais similaridade ao que Dylan tinha feito até então, nos primeiros anos de sua longa carreira, já que Highway 61 Revisited é o álbum em que o artista finalmente abraçou o formato de banda, irritando os seus primeiros seguidores, que idolatravam o trovador solitário, que empunhava apenas um violão e uma gaita. A força de interpretação da banda é o que faz também com que From a Buick 6, por exemplo, seja bem mais do que um blues acelerado qualquer.
Mas que fique bem claro que Dylan não se tornou o ser semi-mitológico que é à toa. Sua maneira de cantar, com um tom levemente debochado – bem evidente na faixa título - cria um clima mais pé-no-chão para suas letras intelectualizadas e cheias de simbolismo. Dylan, afinal, veio da escola do folk, da música que faz com que o povo sinta-se como, realmente, um povo, e o álbum é apenas a versão eletrificada dessa linha. É a soma de tudo isso que gerou canções extraordinárias como Queen Jane Approximately e Ballad of a Thin Man, e faz com que elas soem tão fortes e tão belas aos ouvidos.

E nós ainda não falamos da música que abre o álbum e que ingressou de imediato no canône da cultura popular. Like a Rolling Stone completou cinquenta anos de idade e não envelheceu um dia sequer. Soa tão brilhante e atual quanto deve ter sido lá em 1965. Se merece ou não o topo da lista de melhores músicas, feito pela revista Rolling Stone, vai depender da opinião de cada um, mas que ela merece estar na lista é indiscutível. Dylan se reinventava com esse álbum e tornaria a se reinventar outras vezes, talvez nem sempre com tanto êxito, mas nunca deixando de manter-se na posição inequívoca de um dos maiores artistas do século XX.

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