domingo, 10 de maio de 2015






CELTIC FROST - MORBID TALES


 


A prova de que a falta de uma técnica mais apurada pode ser completamente suprida pela criatividade. Um disco histórico, influente e brutal, de uma banda tão intensa que praticamente forçou a imprensa, estrangeira e nacional, a reverem suas negativas impressões iniciais, sarcásticas e ofensivas, e renderem-se ao carisma maléfico desse grupo, sintonizando-se com o nascente culto que espalhava-se entre os fãs de metal mais apensos a descobrir novos artistas.


E o culto ao Celtic Frost não era gratuito, nem era um fenômeno localizado. Hoje, qualquer pessoa pode gerar uma música e rapidamente espalhá-la pelo mundo, podendo a mesma ter ou não alguma evidência, para o bem ou para o mal. Trinta anos atrás, as coisas eram bem diferentes e não é pelo fato da banda ser originária da Suécia que as coisas seriam radicalmente facilitadas. O heavy metal, em 1984, estava no auge de sua propagação, mas o que o Celtic Frost fazia era a extrapolação do estilo, a guinada, junto com Sodom, Venom e Bathory para o obscurantismo, lírico e musical. Se, mesmo hoje, qualquer suposição de malignidade gera algum desconforto e polêmica, em tempos mais ingênuos a reação era mais acentuada. Algo tão aprofundado no underground só poderia, portanto, crescer através de pequenos fanzines, do boca-a-boca de fãs, da troca de fitas, e na intensa realização de apresentações, em locais tão tenebrosos quanto o seu som, embora não se deva olvidar da popularidade anteriormente obtida através das atividades iniciais sob o nome de Hellhammer.


Tom Warrior, Martin Ain e os bateristas que os acompnhavam, seja no Hellhammer ou no Celtic Frost, criaram uma assinatura musical extremamente bem definida. Formas de vocalização, maneiras de tocar guitarra ou até mesmo variações de andamento que, quando reinterpretadas, são facilmente associadas à sua origem. E, ao contrário de tantos álbuns contemporâneos de música extrema, Morbid Tales não mantinha o pé no acelerador o tempo todo. Sua mescla de partes rápidas e partes arrastadas formou um resultado em que cada uma dessas levadas evidenciava a outra. Após os sons de inumanidade que abrem o disco, como lamentos de caos espectral, temos a velocidade de Into the Crypts of Rays, Morbid Tales e Nocturnal Fear, que fazem contraponto com a densidade mais latente de Procreation of the Wicked, Return to the Eve, Visions of Mortality e Dethroned Emperor, sendo que essa última, juntamente com a faixa título, foram incluídas apenas na versão americana do disco, que é, originalmente, um EP. Porém, entre tantos momentos de destaque, evidencia-se uma faixa que não é necessariamente uma música. Danse Macabre aproxima-se mais de uma experimentação de estúdio, uma colagem de sons, mas quem consegue pular a mesma? O fascínio macabro que esta exerce é do tipo que mantém o ouvinte atento e com a respiração suspensa, tentando compreender o que está acontecendo.


Não deixando de lado o que Martin fez pela banda, a verdade é que Tom Warrior é a força criativa que continua levando o legado do Celtic Frost para o futuro. Tudo o que ele fez é reverenciado e assim merece ser, mas apenas Tom Warrior é capaz de ir além de sua própria obra. O Triptykon existe para comprovar isso. Não é o Celtic Frost em nomenclatura por razões diversas, mas é o Celtic Frost em espírito. É o Celtic Frost da forma como esse soaria se ainda existisse e, por isso, torçamos para que Tom Warrior ainda permaneça muito tempo entre nós, para podermos ver quanto limites ele ainda pode atravessar dentro da escuridão.


E da morbidez.

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