domingo, 28 de dezembro de 2014

SCORPIONS - BLACKOUT


Eu sempre tive a impressão de que o conceito sobre o que vem a ser heavy metal sofreu modificações ao longo do tempo. Existem várias bandas que, no passado, recebiam essa nomenclatura, e hoje podem ser definidas, pelo consenso geral, com outros nomes. Tal percepção me parece se dar conforme a música vai avançando para níveis mais extremos. De maneira alguma eu vou ter o atrevimento de dizer o que é heavy metal. Não tenho gabarito para tanto. Mas, dentro da minha visão particular, considero que o Scorpions foi uma grande banda do estilo.
Esse preâmbulo justifica-se pelo fato de que quase ninguém se refere atualmente ao grupo alemão como uma banda de metal. Hard rock é a expressão que preferem usar para defini-los atualmente. Eu compreendo que pode parecer meio estranho juntar debaixo do guarda-chuva do metal bandas tão diferentes quanto Scorpions e Cannibal Corpse, por exemplo, mas, de novo, é uma questão não só de opinião e percepção individual de cada um, mas principalmente de perspectiva temporal. Se pegarmos o período de 1979 a 1982,  época em que o metal estava em processo de definição de suas características, impulsionado pelo desenvolvimento da NWOBHM, e que também corresponde ao período em que foi lançada a primeira trinca de discos do Scorpions com Matthias Jabs na guitarra, vemos que o grupo não fica atrás da concorrência em termos de desempenho. Diferenças de potencial sísmico sempre vão haver, mas isso não significa estar à parte do estilo.
A própria banda, aliás, se considerava heavy metal. Me lembro de uma entrevista antiga de Klaus Meine em que no meio de uma frase ele comentava “...bandas de heavy metal como a nossa...”. E não tem como eu discordar, quando escuto Blackout, o terceiro disco da trinca acima e que é, provavelmente, o que tem mais poder de fogo entre os três.
Blackout, cuja capa em vinil era tão chamativa e instigante nas prateleiras das lojas, veio ao mundo em um ano que nos deu também The Number of the Beast e Screaming for Vengeance, e contribui com pelo menos três músicas essenciais para a antologia do estilo: a faixa título, Now e Dynamite. Quando a primeira começa, não dá pra ficar indiferente a capacidade de Rudolf Schenker de executar uma base. As músicas parecem se caracterizar por riffs pontuados por acordes curtos, com golpes precisos nas cordas, sem espaço para ressoar antes do próximo acorde. A produção, que deixou o som das guitarras bem alto na mixagem, valorizou sobremaneira a sincronia da parte rítmica. Rudolf Schenker é, de longe, um dos melhores músicos em sua função até hoje, sendo devidamente referenciado pelas gerações seguintes.
Com menos peso, mas com carisma extraordinário, o álbum também tem as canções No One Like You e Can´t Live Without You. Tanto nessas, como nas demais, Klaus Meine dá um espetáculo soberbo, cantando em tons altíssimos. A voz de Klaus é única! Ele, com certeza, inspirou muitos cantores, mas ninguém consegue soar como ele. Existe, nesse mundo, vocalistas, consagrados ou não, que emulam os timbres dos artistas mais variados, de Elvis Presley até Tom Araya. A voz de Klaus é tão própria, tão reconhecível, que eu tento, mas não consigo lembrar de ninguém que remeta a ela ou seja sequer parecido.

No final do disco, como é esperado por quem conhece o grupo, está a inevitável balada. O Scorpions é sempre associado a esse tipo de música e, convenhamos, conquistou esse mérito com talento sobrenatural. When the Smoke is Going Down, porém, é para mim a penúltima experiência bem sucedida nesse sentido. Depois de Still Loving You, a última grande balada da banda, o que foi feito não passou de ser apenas simpático. Não dá pra comparar You and I, Winds of Change e Believe in Love, bem comuns, com Holyday, Lady Starlight ou Always Somewhere. When the Smoke is Going Down, portanto, termina por abrilhantar um disco que já é brilhante e que, merecidamente, foi o primeiro sucesso arrebatador de uma banda que ralou exaustivamente para chegar até o topo, sofrendo com as barreiras de idioma, mas entregando música de qualidade, essa sim uma linguagem universal.

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