domingo, 28 de dezembro de 2014

BRIAN SETZER ORCHESTRA - VAVOOM




Os amantes do free jazz, fãs de Miles Davis, John Coltrane e afins, irão me menosprezar pela minha opinião, mas jazz, para mim, sempre foi e sempre será a música das big bands. Tudo bem, Coltrane e Davis, são gênios, isso não se discute, mas a música deles, por mais genial que seja, e por mais que eu aprecie esporadicamente, não satisfaz minha alma da mesma forma que o fazem Duke Ellington, Glenn Miller, Tommy Dorsey ou Benny Goodman. Esses caras fizeram a trilha sonora da América na época das grande guerras e o gosto por sua obra – e aí entra o emocional – foi talvez a herança musical mais forte que recebi do meu pai.
Não sei se ainda existem big bands em atividade por aí, mas um dos meus guitarristas preferidos teve a iniciativa de criar uma. Não poderia haver ninguém melhor para o trabalho! Brian Setzer é um músico virtuoso, um compositor genial e um workaholic obcecado: não bastasse ter criado a melhor banda de rockabilly de todos os tempos, o Stray Cats, concebeu a Brian Setzer Orchestra e ainda arranja tempo para gravar álbuns solos onde revisita os primórdios do rock´n´roll, fazendo releitura de antigas gravações da Sun Records. Fica bem claro que ele conhece a fundo e se sente à vontade nesse universo. Me parece que tudo o que Brian faz remete às décadas de 40 e 50, de forma que ele não conseguiria se afastar desse padrão de composição sem perder a espontaneidade.
Trabalhando nesse estilo, não dá para querer reinventar a roda e, portanto, a B. S. Orchestra abrange, no seu repertório, algumas composições próprias de Brian, músicas de seu tempo de Stray Cats e standards dos band leaders acima, entre outros. Tudo executado por um combo contendo um baterista/percursionista, dois contrabaixistas e treze músicos na seção de metais, tendo logicamente a guitarra de Brian à frente.
Nesse presente disco, temos, por exemplo, clássicos como Americano, Gettin in the Mood, de Glen Miller, Caravan, de Duke Ellington, e Mack the Knife, que ficou famosa na interpretação de Louis Armstrong e cuja versão aqui é extremamente contagiante. Entre as faixas compostas por Setzer, duas se destacam, não apenas pela qualidade como também pelos títulos sensacionais: That´s the Kind of Sugar Papa Likes, bem balançada, e a instigante Drive Like Lightning, Crash Like Thunder, com uma pegada mais roqueira. Em outras faixas, com menos intervenção da orquestra, o resultado acaba soando semelhante ao estilo do Stray Cats e, nesses momentos, tal qual na sequência 49 Mercury Blues e Jukebox, dá pra apreciar melhor as linhas de walking bass executadas.
Ao investir na formação da Orchestra, mesmo contra as opiniões de que iria arruinar sua carreira, Brian Setzer conseguiu reinventá-la, sem se desviar de suas características como artista. As big bands eram o rock´n´roll antes do rock´n´roll ter sido criado e nenhum artista atual tem mais autenticidade do que Brian para ressucitar esse gênero de fazer música, modernizando-o sem descaracterizá-lo, trazendo-os para os dias atuais sem soar como reciclagem barata e oportunista. Uma tarefa tênue e delicada, mas fácil de ser feita por quem não é apenas um personagem, mas realmente vive e respira a música que faz.

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